LUCY ROCHA – À medida que os anos avançam, parece cada dia mais difícil se encontrar no espelho. Num movimento inconsciente, passamos a cercear nossa própria liberdade de vestir o que gostamos, de usar expressões moderninhas na fala ou simplesmente gostar de quem nos aquece o coração, tudo porque são “coisas inadequadas para alguém dessa idade”.
Enquanto entendemos que os anos nos trazem experiência de vida no mesmo passo em que o corpo parece simplesmente oxidar, nos vemos às voltas com os quilos a mais, novas linhas de expressão, muitos brancos, um grau a mais nos óculos e o constante questionamento:
Afinal, o que somos além do que aparentamos ser? A partir do quê aqueles que estão ao redor medem o nosso valor quando, por fora, parecemos nada mais do que “velhos”?
É preciso um esforço homérico para concluir que, realmente, não importa; que como nos veem não é um problema nosso, que não agradamos sempre, pois a vida segue e, decerto, envelhecemos por fora enquanto nos renovamos constantemente por dentro.
Passamos a ver a vida com uma lente de aumento, nos tornamos mais exigentes com o mundo e mais generosos com nós mesmos. Conseguimos distinguir o NÃO saudável do NÃO mesquinho e ficamos com o primeiro, pois é nessa fase que aprendemos que quem não sabe estabelecer limites saudáveis até para aqueles que ama, terá seus direitos e emoções vilipendiados por toda a vida.
Aos poucos, deixamos de lado aquele jovem ego centrado e aprendemos com nossas dores a sentir a dor do outro e assim nos compadecermos dela sem tantos julgamentos ou sermões, ainda que, momentaneamente, algo nos enfureça. Aprendemos a deixar ir com a elegância de um adulto e a ternura de uma criança que não faz birra.
Aprendemos o doce amargo de ter de acolher em nossas vidas aquilo de que precisamos ainda que seja diverso do que queremos, porque temos consciência de que tudo passa, nada é fixo, e que aceitar isso nos torna humildes e nos acalma o coração.
Escolhemos melhor as batalhas que queremos lutar e nos tornamos menos críticos, menos brutos, menos ingênuos, mais práticos, mais francos. Aprendemos a gostar de nossa própria companhia e caminhar com as próprias pernas, de bem com a solidão, sem a sensação de desamparo que nos persegue desde a infância.
De repente, envelhecer deixa de ser um açoite e se torna aquilo que de fato é: o grande momento em que fortalecemos nossa fé em Deus, no universo, em nós mesmos e na ideia de que tudo está certo no lugar em que está e que o melhor da vida ainda está por vir.
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