CARLOS ARAÚJO (Blog Outro Olhar) – Foi muito tardiamente, aos quinze anos, que conheci o mar pela primeira vez. E a experiência foi marcada pelo pânico. Entrei na água sem respeitar a margem de segurança e uma onda me encobriu. Por uns instantes fiquei suspenso na água, sem direção, sem localizar a praia. Senti um pavor indescritível. Quando pensei que estava perdido, avistei a praia, senti os pés tocarem a areia e saí da água. A sensação de sobrevivência valeu como lição.
E após o susto da primeira vez, eu poderia jamais ter voltado ao mar. Mas voltei várias vezes. Criei uma espécie de protocolo em que a segurança era a prioridade. Tipo nunca entrar com a água acima da linha da cintura. Apenas o suficiente para brincar na água com a sensação de recordar os tempos de criança, curtir o ruído e o poder das ondas.
Por que pensar nisso agora? Seria delírio pós-quarentena? Os piratas podem dizer isso com propriedade, mas a falta de intimidade com o mar pode surpreender os desavisados. O mar tem segredos de atração que não precisam ser explicados. Envolvem o sentido de aventura, a magia da paisagem, o mito do Posseidon, a vastidão profunda e selvagem.
O mar é a metáfora mais perturbadora da fragilidade humana. Indomável. Não há força capaz de deter o seu poder. E quando agredido pelos desmandos das ações humanas, ele sempre reage como um vingador e se impõe como o seu domínio sobre os boçais e os covardes.
O mar é inspiração permanente para poetas, escritores, cineastas, artistas plásticos. Desde Hemingway, Melville, Stevenson, Poe, os grandes autores elegeram o mar como protagonistas em obras clássicas da literatura. As guerras transformaram o mar em campo de batalha e cemitério submerso. Por mais de três séculos, navios negreiros fizeram do mar uma travessia de horror, crueldade, vergonha.
O mar também consegue a proeza de ser cenário de histórias de amor e de utopias extraordinárias. As ondas conduzem os navegantes a ilhas desertas e paradisíacas. E foi a partir da travessia do mar que o Brasil foi descoberto.
O mar é perdição e glória, beleza infinita, obra de arte da natureza.
Deixe uma resposta