
José Carlos Fineis
Tocaram a campainha. Era o carteiro.
“O sr. conhece a moradora da casa ao lado?”
“Não. Nunca tem ninguém em casa.”
“Que pena. Tenho uma encomenda pra ela.”
Mostrou um pacote.
“O sr. não poderia receber a encomenda e depois entregar?”
“Eu não. Já disse, nunca vejo ninguém aí. Acho até que se mudaram.”
“Se eles se mudaram, a encomenda fica sendo sua.”
“Tá doido? Como posso ficar com um pacote sem saber o que tem dentro? Pode ser um veneno, uma coisa radioativa. Uma bomba caseira, uma maldição, uma jura de morte, um rato morto.”
Ele foi embora balançando a cabeça e eu corri passar álcool nas mãos, mesmo sem ter tocado em nada.
Depois, como sempre, tive vergonha de minha covardia. Não dormi à noite, pensando numa possibilidade absurda.
E se fosse uma esperança?
Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay
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