Aluísio de Almeida entre o louvor, a crítica e a leitura superficial

Geraldo Bonadio

O monsenhor Luiz Castanho de Almeida, mais conhecido pelo pseudônimo de Aluísio de Almeida, faleceu em Sorocaba, cidade em que residiu desde 1933, na manhã de 28 de fevereiro de 1981. Nascido a 6 de novembro de 1904, em Guareí, tinha 76 anos e, desde o final da década de 1930, quando se manifestaram os primeiros sintomas da esclerose em placas, que o impediu de permanecer nas múltiplas atividades eclesiásticas às quais se dedicava àquela época, viveu recluso no sobrado que mandara construir, em terreno que adquirira, previamente, na rua Dr. Ruy Barbosa, 84.

Ampliada na gestão do ex-prefeito Paulo Mendes, a área abriga hoje um órgão municipal, a Casa de Aluísio de Almeida, e o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba que o próprio Aluísio, ajudado por um grupo de pesquisadores e cultores da Histórica da cidade fundou em 1954 e que, a cada ano, no início do mês de novembro, homenageia sua memória com uma semana de celebrações.

Quase quarenta anos transcorridos desde sua morte, o trabalho por ele desenvolvido em diferentes campos das Ciências Humanas, é louvado por alguns, criticado por outros e, como regra, vítima de leituras superficiais que não atentam para o alcance das observações por ele lançadas, aqui e ali, nos seus textos históricos.

Em 1944, a editora José Olympio – hoje dissolvida na geleia geral do Grupo Record – publicou, como volume 46 da prestigiosa Coleção Documentos Brasileiros, então dirigida por Octávio Tarquínio de Souza, uma de suas obras de maior fôlego: A Revolução Liberal de 1842.

Nas páginas 44 e 45, ao relacionar às bandeiras de combate, ou seja, as razões que levaram à eclosão do movimento, Aluísio de Almeida, após enfatizar a fragilidade das escoras da insurreição, escreve, em seu último tópico: “Os liberais apelaram também sem grande insistência para o perigo… inglês”. Resenhando, em três parágrafos, os pontos em que as relações tarifárias entre a Inglaterra e o Brasil, sancionadas por decreto do Imperador Pedro I de 30 de dezembro de 1822, inviabilizavam o projeto de desenvolvimento do Brasil delineados pelos liberais exaltados, sob a liderança de Diogo Feijó e, em São Paulo, de Rafael Tobias de Aguiar.

Ao final, porém, em dois curtos parágrafos, deixa o dito pelo não dito, receoso, em reafirmar, neles, as conclusões a que inevitavelmente se chega após a leitura dos tópicos precedentes, avaliando existir ali areia demais para o caminhãozinho de um clérigo que as limitações físicas desviaram para a seara da historiografia.

Ninguém mais cuidou disso nos vinte anos seguintes, até que, em 1964, o historiador norte-americano Stanley J. Stein (1920/2019), no artigo “A historiografia do Brasil. 1808-1889”, publicado originariamente na “The American Historical Review” , traduzido por Maria Lúcia Carneiro, e reproduzido no nº 59 da Revista de História (p. 81 a 131), classifica o estudo de Aluísio de Almeida, antes referido, como o “talvez o mais esclarecedor de todos” a respeito daquele movimento armado.

Apesar da importância da contribuição de Almeida para o estudo da Revolução de 1842, 56 anos passados da publicação daquele texto, numa revista hoje institucionalmente integrada as editadas pela USP, nenhum debate se fez, em Sorocaba, a respeito do assunto.

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