
José Carlos Fineis
Eu te liberto da obrigação de me amar
E da culpa que porventura te aflige por não me amares
Segue tua vida, meu amor, sem mais pesar
Ciente de que são livres teu sentir e teus pensares
Apaga de tua mente, se assim te ensinaram um dia
Que precisas amar a quem te ama, ou quem quer que seja
Pois amor simplesmente não brota onde se deseja
Nem por força do sangue, das leis ou de profecias
És livre para não me amar, mesmo tendo eu amado
Com todas as células de meu corpo e mente e sonhos
Se sentes gratidão, dá-me um muito obrigado
Ou um aceno de mão; estará de bom tamanho
Sê livre para não me amar: este é o maior bem
Que alguém pode dar a quem ama de verdade
Pois não existe benefício no amor sem liberdade
— A liberdade de sentir o que se sente; nada além
Sentir sem o dever de sentir
Sentir conforme a direção do vento
Sentir apenas o que vem de ti
Sentir sem se impor sentimentos
Ah, se um dia o Criador nos libertasse da obrigação de adorá-lo
O Sol a brilhar na noite ao som de trombetas…
Mas, por algum motivo, ele nos quer encurralados
Infelizes e culpados e, na melhor das hipóteses, poetas
Digo por mim que mais facilmente seria capaz de amar
A quem me libertasse da obrigação de amar
Mas é por ti, e não por mim, que te liberto
E que te entrego a ti, embora te queira tanto
Seja leve teu espírito, sem culpa ou pudor ou pranto
Alegres sejam teus dias, sem minha sombra por perto
Imagem: O Homem Desesperado (Autorretrato), de Gustave Coubert (1819-1877)
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