
Borges e as incertezas
Evandro Affonso Ferreira
Hoje me deu vontade de ler Borges. Jorge Luis Borges…
Pílula do dia

O Arco e a Lira, de Octavio Paz
Poeta e ensaísta, nasceu em 1914 na Cidade do México; estudou poesia nos Estados Unidos. Integrando o corpo diplomático mexicano, representou seu país na França e na Índia; foi professor em Harvard e em outras universidades americanas. Ganhou o Nobel de Literatura em 1990. Morreu em 1998. Escreveu vários livros, entre eles: Os filhos do Barro e O Labirinto da Solidão.
Trecho do livro:
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia, e o desespero a alimentam. Oração, epifania, presença.
Entrevista: Leo Cunha

Escritor, tradutor, jornalista. Pós-graduado em Literatura Infantil (PUC-Minas). Mestre em Ciência da Informação e Doutor em Cinema (UFMG), Graduado em Jornalismo e Publicidade (PUC-Minas). Ganhou váriios prêmios, Exemplos: Prêmio Nestlé, Prêmio Jabuti, Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional. Escreveu dezenas de livros, peças teatrais e compôs muitas músicas.
Leo Cunha, o poeta da nossa infância
Evandro Affonso Ferreira – Procurar a verdade é querer estudar a anatomia do inimaginável, debulhar as cascas do incógnito?
Leo Cunha – Minhas verdades eu incomodo mais que acomodo. Gosto muito de semear dúvidas. Fermentar, afofar, paparicar o desconhecido. Quando escrevo, também costumo rodear as verdades e concordâncias dos personagens. De certo modo, é, sim, uma forma de dissecar assombrações.
Evandro – E quando você se sente refém das ciladas da afoiteza? Sim: quando percebe que está transgredindo os preceitos da precaução?
Leo – Certa vez, na empolgação, ofereci um poema a um amigo famoso, para ele musicar. Descobri que era mais famoso que amigo. Guardo até hoje a vergonha no bolso, e passei anos palitando os dentes da pressa, mas o desgosto nunca saiu.

Evandro – Como tanger com destreza o próprio rebando de inquietudes?
Leo – A destreza escapole pro papel e às vezes, a gente não sente, não entende e não merece. Alguns poemas e histórias que escrevi há vinte ou trinta anos me parecem tão estranhos que nem consigo mais diagnosticar a inquietude que os pariu. Visito muito escolas cujos alunos estão lendo meus livros, e passo apertado para explicar os porquês. Sou melhor nos comos.
Evandro – E quando seus passos não se adaptam jeito nenhum às probabilidades peregrinas?
Leo – Acontece muito, pois sou do tipo que escreve, ao mesmo tempo, um poema, uma crônica, um post de facebook, um meme. O prenúncio do erro é constante, mas sua pergunta encobre um corolário: não há peregrinação sem passos em falso.
Evandro – Às vezes, nem sempre, estoico, consigo trocar a penúltima vogal pela primeira: ao invés de odiar, adiar. E você?
Leo – Cresci dentro de uma livraria – aliás, queria muito ter conhecido a sua Sagarana! – e sempre li muito. A leitura, especialmente a literária, tem o condão de nos ensinar a empatia. Entrar no pensamento do outro, no gosto do outro, na cisma do outro. Nos ensina a olhar de lá pra cá. Na família, isso me rende apelidos de poliana, panos-quentes etc. Mas prefiro assim.
Evandro – Você tem o hábito de jogar sementes de conformismo sobre seu terreno baldio?
Leo – Não diria conformismo, mas uma esperança preguiçosa, meia-tinta. Sou uma espécie de otimista incrédulo, às vezes quase ateu até a alma.
Evandro – Existe nele, seu baú invisível, uma penca de irrealizações?
Leo – Uma penca, um cacho e uma palma. A pergunta que não fiz, a rua que não cruzei, a porta que não abri, o beijo que não dei, a frase que deletei. Ainda bem que a literatura se alimenta de desatos, destriunfos e empates em geral.
Evandro – E quando as mágoas se embrenham nas suas entranhas? Como se livrar dos urros do rancor?
Leo – A vantagem de ter uma memória xexelenta como a minha é esquecer onde foi parar aquela mágoa. De vez em quando minha mulher e meus amigos me revelam injúrias, pirraças e desfeitas que – pelo jeito – devo ter sofrido. Geralmente, não fico apertando parafusos nas feridas. Aliás, em todos os meus livros, acho que o personagem mais sofrido que já criei foi o Rio Doce menino, magoado pelo monstro gigante mineradora, no livro “Um dia, um rio”.
Evandro – Você já se viu, alguma vez, diante do espelho praticando lisuras?
Leo – Não. Espelho é lusco-fusco, serve mais pra treinar disfarces.
Evandro – É possível se precaver tempo todo contra as próprias contradições?
Leo – Acho difícil. Melhor é torcer para ninguém notar. Pra não aparecer o garotinho do Andersen e gritar: ele está nu! Por outro lado, se alguém nos observa a ponto de descobrir nossos paradoxos, merece nosso mimo, estima e cafuné.
Evandro – Viver? É possível se preparar essa emboscada?
Leo – Emboscada é uma boa definição. Fomos jogados num interminável repente. Só nos resta improvisar. A sorte é que os outros também caíram na mesma redondilha.
Fragmento
Sabendo da impossibilidade de combater obstáculos com blasfêmias e derrubar barricadas com irreverências profanas, aprendeu, desde cedo, a adestrar seu olhar para escarafunchar subterrâneos, transitar nos meandros subsequentes aos óbices.
Jactâncias

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
Capa: Marcelo Girard
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