
José Carlos Fineis
Nem as árvores, nem as nuvens,
nem os tijolos, nem as luas de Marte conhecem o tempo
Cansado do ofício de um jornal diário
onde o mundo e as pessoas se dividem entre ontem,
hoje e amanhã
invento um jornal sem tempo. E noticio:
Não importa para onde se vá
se só, ou se menos triste —
o ar é doce, a vida é vã
e a brisa do mar afaga os ressentimentos
Deixo-me, pois, inflar como um dirigível
e flutuo
sobre a orla do mar —
o mar
que reflete
as estrelas
Durante quantos anos
quantas vidas!
de sutis humilhações
afáveis espezinhamentos
tenho desejado ser
não quem ordena, não quem obedece:
apenas um risível zepelim gigante!
Flutuo, então, indiferente
Perpasso a paisagem noturna
e avisto os engenhos dos homens
e pressinto a presença de Deus
(De onde, meu Deus,
de onde
surgiu
esta doida alegria?)
Na distância, intermitente
brilha a orla respirável
de um planeta azul
Não importa
Não importa para onde se vá
(se triste, ou se menos só)
— senão a carga
de poesia
que se tem
dentro de si
Créditos das imagens
Céu estrelado: FelixMittermeier por Pixabay
Máquina voadora: Gordon Johnson por Pixabay
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