
José Carlos Fineis
Um homem morreu e agora se encontra diante de um pórtico de fogo.
Mal podendo abrir os olhos ofuscados pela luz e pelo calor, ouve alguém que lhe sussurra:
“Bem-vindo ao inferno. Obrigado por nos escolher. Este será seu lar para a eternidade.”
“E como é estar no inferno?”, desespera-se o recém-chegado, sem levantar a cabeça.
O outro vibra de alegria com a pergunta – ao que parece, recorrente. Após estrondosa gargalhada, explica:
“É um sofrimento intenso e jamais interrompido. Sabe quando sente sede e não pode beber água? É mais ou menos assim, só que muito pior.”
“Entendo”, diz o homem, ao mesmo tempo em que mãos poderosas o agarram e arrastam para dentro das chamas.
Ainda uma dúvida o aflige, entretanto. E, voltando-se para trás, reúne forças para gritar uma última pergunta:
“Por acaso existe, dentre todas as formas possíveis de sofrimento, alguma suficientemente terrível a ponto de nos fazer esquecer o remorso?”
Imagem da intographics do Pixabay
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