Escrito à beira do desespero, ó Rei Encoberto!
Davi Deamatis
(Blogueiro convidado)
Virás quando, ó Encoberto,
Livrar-nos do maligno
Cuja hora de partir
Já chegou por mais que certo
Dado ao terror de seu mando
E ao seu necrófilo instinto?
Por justiça aos quatrocentos
E a quantos outros milhares estão ameaçados
Nestes dias de aflições sem fim
Ó Encoberto, vem logo, vem
Tomar a força e o poder dessa coroada anta
Para que do perigo nos deixe livre
Fazendo-a deitar sob o poder do vírus
E que sob a campa a sua infame carne
Do verme seja almoço e janta!

Nota do Editor: Dom Sebastião, jovem rei de Portugal, foi derrotado na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 4 de agosto de 1578. A batalha dizimou a nobreza de Portugal e assinalou o fim da Cruzada cristã contra os muçulmanos. Dado como desaparecido, D. Sebastião teria sido morto em combate, segundo historiadores. Entretanto, a demora no traslado do corpo, que só retornou a Lisboa em 1582, e a desconfiança de que aquele não seria, afinal, o corpo do rei deram origem ao Sebastianismo, misto de lenda e crença que perdurou por séculos, segundo a qual Dom Sebastião teria sobrevivido à batalha e retornaria um dia para devolver a Portugal seus dias de glória.

Davi Deamatis, jornalista há 40 anos, agora é um feliz brasileiro aposentado que vive de livros e de ilusões. Por isso escreve, não mais por obrigação, mas por prazer – e exercita-se: é pós-graduado em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira. Nas letras, diz que que está na adolescência (tempos em que sonhava ser poeta). E é feliz por novamente ouvir o canto da sereia, de quem ainda não ganhou o beijo. Nem sabe se ganhará. Mas vai em frente, mesmo diante do espanto de sua mãe que, já anjo, do céu o alerta: “cuidado, menino!”
Imagem maior: Dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir
Imagem menor: Dom Sebastião
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