JOSÉ CARLOS FINEIS – Ao declamar Pessoa, abri os braços, me entusiasmei e quase perdi o equilíbrio. Mas Regina, com o olhar distante, nem percebeu. – Todos os sonhos do mundo – ela repetiu. – Tenho saudades do tempo em que eu também sonhava. Me sinto tão diferente do que eu era! Parece que o dom de sonhar ficou perdido em algum ponto do caminho. Acho que essa é uma forma, talvez a mais dolorosa, de morrer: quando sentimos que abandonamos nossos sonhos, ou que fomos abandonados por eles.
A sedução do abismo (conto). Parte 2: A arte de construir sobre o vazio
JOSÉ CARLOS FINEIS - Um murmúrio subiu desde a multidão quando, lenta e cuidadosamente, passei a perna esquerda por sobre o peitoril e fiquei sentado lado a lado com Regina, os pés apenas recostados no concreto pelos calcanhares, sem poder contar com uma saliência, um ponto de apoio para as pernas. Eu tinha uma desvantagem, que era de não conhecer Regina nem saber o que a levara a cogitar o suicídio.
A sedução do abismo (conto). Parte 1: Uma executiva na janela
JOSÉ CARLOS FINEIS - "Então vamos fazer assim. Em vez de eu falar sobre mim, você fala. Mas pelo amor de Deus, não quero ouvir essas máximas idiotas que as pessoas publicam nas redes sociais. Você tem até as seis para dizer tudo o que puder para me fazer mudar de ideia. Eu prometo ouvi-lo e considerá-lo. Antes disso não vou pular, a menos que algum idiota tente me tirar à força daqui."
A taça de sorvete
JOSÉ CARLOS FINEIS - Não me sinto culpado por ter sido uma criança difícil, por um motivo muito simples: não existe criança fácil. O que existe é criança mais ou menos difícil. Também não perco tempo pensando em que categoria – se mais ou menos difícil – eu poderia ter sido classificado. Acredito (e obviamente... Continuar Lendo →
A felicidade possível passou por aqui (conto). Parte 2 (final)
JOSÉ CARLOS FINEIS - A deserção de Bebeto não ocorreu do dia para a noite. Os sinais de que ele não estava disposto a assumir o casamento estavam presentes desde os primeiros dias. Mesmo assim, a maneira como pulou fora surpreendeu muitas pessoas – Paula, inclusive –, à vista das quais ele amava a esposa,... Continuar Lendo →
A felicidade possível passou por aqui (conto). Parte 1
JOSÉ CARLOS FINEIS - “Quanto tempo é preciso conviver com uma pessoa para decifrá-la apenas com o olhar?” – ela se perguntava, sentada à mesa da cafeteria, a face apoiada em uma das mãos, enquanto Bebeto guardava o iPhone na mochila e a colocava numa cadeira. Havia poucos instantes que ele chegara, caminhando apressado pelo... Continuar Lendo →
Se eu tivesse mais um dia para estar com você
JOSÉ CARLOS FINEIS - Era uma tarde de sol e céu azul, dessas em que dois amantes podem perfeitamente ser felizes apenas por sentar-se num banco de jardim, olhando-se nos olhos e acariciando os cabelos um do outro delicadamente com as pontas dos dedos. Ou em que a jovem mãe percebe com alegria que seu... Continuar Lendo →
Começos
"Tudo o que é bom começa bem. O que começa mal só tende a piorar. Isso vale para sociedades, obras, parcerias, viagens, cursos, negócios em geral, relacionamentos amorosos e, é claro, governos, não importa o quanto gastem em publicidade." -- Conversa de Armazém
O sonho emprestado (conto). Parte 3 (final): Até onde minha música chegar, você estará comigo e será parte dela
JOSÉ CARLOS FINEIS - No dia seguinte, logo cedo, Quim procurou os pais de Clara no bar onde trabalhavam e teve com eles uma conversa confusa, entrecortada pelo atendimento aos clientes. Não que eles não entendessem o idioma. Não entendiam exatamente o que esse tal de Francisco queria com a filha deles. Quim gaguejou várias... Continuar Lendo →