Hope I Get Old Before I Die

Blog do Frederico Moriarty

José trabalhou a vida toda em repartições públicas entediantes ou em pequenos jornais constantemente censurados. Escreveu 2 livros de poesia mediana, 1 de crônicas e uma peça de teatro. Em 1976, de saco cheio de tudo, decide dedicar o resto de sua vida à literatura. Publica ” Levantados do Chão ” em 1980 aos 58 anos. Dezoito anos e livros depois Saramago ganha o primeiro e único Nobel em língua portuguesa. Escreveu por mais 12 anos.
Miguel teve história parecida, 4 séculos antes. Foi funcionário de alto escalão de castelos e palácios espanhóis. Escreveu 3 obras medianas. Resolveu se dedicar à literatura e com 59 anos publicou a primeira parte de Dom Quixote. Cervantes passou os 20 últimos anos de vida escrevendo. Quixote tornou-se uma das 3 obras mais importantes da história.
Ludovico era um velho surdo, alcoólatra e sifilítico. Sofria com as constantes crises nervosas. Com 54 anos Beethoven compôs a Nona Sinfonia. Outro alemão foi Emanuel. Professor de uma cidadezinha pequena, jamais produziu algo, até que aos 57 anos escreveu a revolução copernicana da filosofia, como ficou conhecida a ” Crítica da Razão Pura “, de Kant.
Carlos também era alemão. Aos 53 anos estava duro e endividado. Escreveu em 7 volumes uma das obras mais importantes da humanidade. ” O Capital” de Marx descobriu o inconsciente da História.
Érico era historiador e seguidor das teorias do Carlos, citado anteriormente. Publicou uma verdadeira Bíblia da história Contemporânea em 3 volumes. O último deles saiu quando Hobsbawm tinha 71 anos. Doze anos depois se deu ao luxo de lançar uma interpretação única do século XX.
Um outro Carlos entrou em crise existencial. Bolsista, sem dinheiro e preocupado com a primazia de sua tese, o cristão fervoroso mata Deus e aos 51 anos Darwin lança a ” Origem das Espécies “.
Gustavo descobriu o segredo da sua ciência aos 69 anos. Os textos herméticos e a alquimia fizeram Jung organizar toda a psicologia analítica em volta de mandalas, símbolos, signos e os 4 elementos primordiais. Passou os últimos 17 anos de sua vida dando sentido à psicologia.
Apenas 1 ano mais velho do que Jung, Giovanni Baptista deu ao mundo uma Encíclica que permitiu um grande avanço na doutrina social da Igreja católica. O papa Paulo VI foi o precursor da Teologia da Libertação.
Angenor nasceu no samba carioca. Passou 55 anos compondo músicas para a escola de samba que fundou: uma tal de Estação Primeira. Só a turma da quadra o conhecia. Quando fez 66 anos o convidaram para gravar um disco. Desceu o morro da Mangueira e lançou ” Cartola “. Produziu mais 3 lps nos 6 anos de vida que restavam. Tornou-se um artista celebrado e reconhecido como um dos maiores letristas da história da MPB. Cartola, velhinho, magricela compôs ” Aurora “, ” As rosas não falam” e ” O mundo não é um moinho”. Coisa pouca, né?
Nelson era de família nobre. Militante comumista e antirracista, ele foi preso em 1961 e condenado à prisão perpétua. Depois de 30 anos na solitária, Mandela foi libertado. Aos 76 anos é o primeiro negro eleito na história da África do Sul. Em seus 4 anos de mandato, de forma pacífica e não revanchista, acabou com a aberração totalitária do Apartheid.
Tudo pra dizer que sempre é seu tempo. Sempre poderá começar algo novo. Que seja, um filho, uma casa, uma árvore ou uma revolução. Cada um de nós pode fazer, a qualquer tempo, o que sonha e acredita.
Aliás, o Pedrão da música citada no titulo dessa crônica, a compôs aos 22 anos, jovenzinho revolucionário. Hoje, aos 79 anos ele se define como ” neocon”. Pete Towshend tá vivo e há 4 anos lançou seu primeiro romance. Ruinzinho. Mas pra quem criou Tommy, tá perdoado.

Deixe uma resposta

Acima ↑